
Participo de Corridas de Aventura desde 2004, e uma questão que continua me angustiando é: quanta comida e bebida devo levar numa prova?
Essa é uma questão difícil de responder de forma absoluta, pois cada atleta é diferente dos outros, pode estar melhor ou pior condicionado em diferentes provas, e seu corpo pode reagir de formas diferentes em momentos distintos de uma mesma prova. Além disso, é bem comum que, com o passar do tempo, atletas dedicados a esportes de endurance desenvolvam tolerância ao sofrimento físico e fisiológico por períodos mais prolongados.
Em 2006 minha equipe me chamava de camelo por beber pouco durante a prova. Eu não bebia pouco de propósito, era natural, mas logo percebi que isso poderia ser simultaneamente uma vantagem (pois eu carregava menos peso), e uma baita desvantagem (pelos prejuízos fisiológicos). O problema é que mudar certos hábitos não é nada fácil.
Em termos de comida, depois de muitos testes quantitativos, atualmente eu uso a medida “1 item de comida por hora de prova” (gel de carboidrato, barrinha de proteína, cereais, frutas secas etc.) Essa “fórmula” tem funcionado bem, mas confesso que nem sempre dá certo. Assim, antes de decidir quanta comida e bebida levar na prova, procuro considerar 5 questões:
1) Quem? quem são os outros integrantes da equipe, o nível de experiência e condicionamento físico atual deles é similar ao meu?
2) Como? o organizador divulgou o nível de dificuldade técnica da prova e se haverá possibilidade de acesso a caixas de reabastecimento ou equipes de apoio ou se a equipe deverá ser autossustentável?
3) Quando? existe horário limite para o fim da prova e qual é a margem de segurança para imprevistos como erros de navegação, problemas mecânicos e lesões?
4) Onde? a prova passa por trechos urbanos com acesso a mercados, bares e restaurantes?
5) Porque? estou nessa prova pelo resultado competitivo ou apenas por diversão?
Depois de responder a essas questões, fica evidente que a medida “1 item de comida por hora de prova” não vai resolver a vida de muita gente. No entanto, não tenho a menor dúvida de que o fracionamento de comida por tempo de prova continua sendo um bom macete para otimizar a logística do atleta e da equipe, desde que devidamente testado nos treinos e não improvisado na hora da competição.
Independente do objetivo ser de curto prazo (resultado numa prova) ou longo prazo (longevidade, qualidade de vida), o correto é procurar orientação e acompanhamento de profissionais como médicos, nutricionistas e preparadores físicos. É nisso que eu acredito, e é o que eu tenho feito.
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